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segunda-feira, 19 de março de 2012

Horizonte Perdido‏

Quando me dei conta, na sexta-feira, já estava embarcada num avião com destino ao Rio para prestar minhas últimas homenagens ao meu tio querido e padrinho Celso Alves de Carvalho.É bem difícil retornar para um local que, para mim, sempre foi palco de férias, descanso, divertimento, alegria e bem viver. Mas era preciso estar ali, para o abraço, para o choro, para o adeus e para a inauguração do portal do início da saudade. Meio desnorteada, deixei o apartamento da Avenida Nossa Senhora de Copacabana e me dirigi para a rua Santa Clara, que é o acesso mais rápido à praia. Contornei o Edifício todo em pedra bege, da antiga Slooper, espiei a vitrine da Roberto Simões que ainda sobrevive a passagem do tempo, cruzei a rua Leopoldo Miguez, que tem a feira mais charmosa do bairro, até alcançar a esquina da Avenida Atlântica. Ali, naquela esquina, almoçávamos em restaurante elegante de frutos do mar, que se chamava Rian. Sentei-me num banco com vista para a praia. Havia sol, o céu já meio avermelhado, anunciando o por do sol mais lindo do Rio, na mais bonita das enseadas, a de NSa. Sra. de Copacabana. Bem ali, às minhas costas, havia um grande cinema, também chamado Rian. O carioca adora cinema. Eu também, além de adorar os cariocas. Depois dos almoços de domingo, que sempre vou ter saudades, assistíamos as matinês no Rian. Uma ocasião, lá pelos anos 70/80, entramos para a viagem fantástica, proporcionada pelo musical Horizonte Perdido. Nunca vou me esquecer. Já na fase em que os viajantes tentam deixar Shangrillá, quando a professora linda, simultaneamente perde a eternidade e envelhece, houve-se gritos no cinema de fogo fogo, olho para trás, meio desesperada, e enxergo as chamas nas luzes indicativas de saída. Uma multidão se acotovela nos corredores e se instala um tumulto generalizado. Meu tio, agarra meu braço e diz: - calma, calma, nós vamos sair depois... Ele me segura em desespero e só então, quando o corredor lateral alivia, nos levantamos e, calmamente, vamos nos dirigindo à saída. Chegando lá fora, uma tarde linda, meio vermelha, como a de hoje, nos aguardava... Foi uma transposição meio instantânea do inferno ao paraíso. A situação é resolvida. O fogo é dominado. Ele me pergunta se quero pipoca e retornar ao filme. Respondo que só quero a pipoca e escolho o entardecer tranquilo e colorido do calçadão. Agora, aqui sentada, olho para trás. Vejo que o cinema não existe mais, no seu lugar, um moderno edifício todo envidraçado foi construído. Não posso retornar ao cinema. Vou andando pelo calçadão, o céu vai se avermelhando novamente como naquela tarde de domingo, sigo sozinha a contemplar aquele espetáculo, caminhando, caminhando, num horizonte perdido, levando comigo a mesma sensação daquele dia em que a história foi, repentinamente, interrompida...


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